O Arcano da Busca e do Amor
Compilação de Constantino K. Riemma
Ao contrário do que ocorre nos
demais arcanos, a margem superior da lâmina não tem numeração, razão pela qual
se costuma atribuir-lhe o valor de arcano 0 ou 22, segundo a necessidade.
Um homem anda com um bastão na
mão direita. Está de costas, mas seu rosto, bem visível, aparece de três
quartos. Sobre o ombro direito leva uma vara em cuja extremidade há uma pequena
trouxa.
O personagem está vestido no
estilo dos antigos bobos da corte: as calças rasgadas deixam ver parte da coxa
direita. Um animal que poderia ser um felino parece arranhar esta parte exposta
ou ter provocado o rasgão.
De um chão árido, acidentado,
brotam cinco plantas.
O viajante tem a cabeça coberta
por um gorro que desce até a nuca e lhe cobre as orelhas; esta estranha touca
transforma seu rosto barbudo numa espécie de máscara. Veste uma jaqueta, presa
por um cinto amarelo; seus pés estão cobertos por calçados vermelhos.
Significados simbólicos
A busca e o Filho Pródigo. A
experiência de ultrapassar os limites. Espontaneidade, despreocupação,
admiração, saudade. Impulsividade. Inconsciência.
Alienação.
Interpretações usuais na cartomancia
Passividade, completo abandono,
repouso, deixar de resistir. Irresponsabilidade. Inocência. Escolha intuitiva acertada.
Domínio dos instintos; capacidade mediúnica. Abstenção. O não-fazer.
Mental: Indeterminação devida às
múltiplas preocupações que se apresentam e das quais se tem apenas uma vaga
consciência. Idéias em processo de transformação. Conselhos incertos.
Emocional: Revezes sentimentais,
incerteza com os compromissos, sentimentos vulgares e sem duração.
Infidelidade.
Físico: Inconsciência, desordem,
falta à palavra dada, insegurança, desprazer. Abandono voluntário dos bens
materiais. Assunto ou negócio enfraquecido. Do ponto de vista da saúde:
transtornos nervosos, inflamações, abscessos.
Sentido negativo: Enquanto
andarilho, o Louco significa queda ou marcha que se detém. Abandono forçado dos
bens materiais; decadência sem muita possibilidade de recuperação.
Complicações, atoleiro, incoerência.
Nulidade. Incapacidade para
raciocinar e autodirigir-se, entrega aos impulsos cegos. Automatismo. Confusões
inconscientes. Extra-vagância. Castigo causado pela insensatez das ações.
Remorsos vãos.
História e iconografia
Reis e senhores, desde épocas
remotas, tinham bufões em seus palácios, verdadeiras caricaturas da corte.
Histórias sobre eles, bem como as representações gráficas desse personagem,
podem ser contadas às dezenas.
Mas a imagem deste Arcano – um
louco solitário que atravessa os campos e é agredido por um animal – não havia
sido representada até então: é própria do Tarô e, nesse sentido, representa uma
de suas contribuições mais originais do ponto de vista iconográfico.
Van Rijneberk arrisca a hipótese
de que o espírito burlesco e irreverente da Idade Média teria parodiado, neste
personagem, a classe dos Clerici vagante que, segundo ele, eram “estudantes
migratórios e inquietos, sempre em busca de novos mestres de quem pudessem
aprender ciências e ideias, e de novas tabernas onde pudessem beber fiado um
pouco de vinho bom”.
Mais de um autor vê nesses
viajantes insaciáveis e pouco escrupulosos os primeiros agentes – talvez
ignorantes da sua missão, mas de grande eficácia real – da Reforma religiosa.
No desenho feito por Wirth
aparece pela primeira vez impresso o termo Le fou (O Louco) para designar o
arcano sem número, embora tradicionalmente fosse conhecido por este nome desde
muito antes. Tanto o baralho Marselha original, bem como seus numerosos
contemporâneos franceses (e os exemplares dos copistas espanhóis) chamam Le Mat
a esta carta.
Paul Marteau levantou a hipótese
de que este nome seria uma alusão ao jogo de xadrez, já que o protagonista está
em cheque (pelos outros, pelo mundo), numa situação de encurralamento
semelhante à do cheque mate. A palavra mat, no francês, significa "fosco,
abafado, indistinto" e ainda o "cheque mate", no xadrez. Já o
termo mât, quer dizer "mastro".
Outro estudioso do Tarô, Gwen Le
Scouézec, sugere duas variantes etimológicas: o nome viria literalmente do
árabe (mat: morto), ou seria uma apócope do italiano matto (louco, doido), nome
com que aparece no tarocchino de Bolonha.
Fonte: http://www.clubedotaro.com.br/site/m32_22_louco.asp
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