"Aconselha-te com os oráculos, mas siga teu próprio coração..." - Píramo e Tisbe.
Nos últimos tempos as artes divinatórias têm ganhado bastante espaço no solo brasileiro, principalmente no que se refere à cartas - seja Tarô, Baralho Cigano (Lenormand) ou simplesmente as cartas comuns de baralhos de jogo.
Oráculos existem há milhares de anos entre
povos de diversas etnias e culturas diferentes. Na maior parte dos povos que
deram origem às grandes civilizações encontramos a presença de alguma forma de
oráculo.
E do que era (é) feito um oráculo?
Existiram, e existem ainda, muitas formas
de oráculo, desde pedras, conchas, até moedas, cartas, água, vela, borra de
café, enfim, inúmeros oráculos.
A questão é: para que uma consulta ao
oráculo? o que me levaria a buscar a orientação de um oraculista?
Aqui precisamos entender a função de um oráculo, senão toda nossa
busca será vazia, apenas especulação imaginativa.
Vamos, para isso, voltar no tempo...
Na antiguidade, quando as pessoas buscavam o conselho do oráculo,
elas tinham em mente que estavam na presença de alguém muito importante, de
muito respeito, pois o oraculista era aquele fazia a intermediação entre ele (o
buscador) e Deus. Sim, Deus, ou os deuses – principalmente os do destino.
A ninguém era permitido “se aproximar” diretamente dos deuses, mas
somente aqueles que alcançavam certo nível de ética e sabedoria. A estes sim
lhes eram revelados os segredos. Eram, por assim dizer, sábios, lúcidos. Os oraculistas
eram extremamente respeitados, e o que fosse revelado numa consulta era acatado
de pronto.
Em algumas culturas existiram oráculos que apenas as mulheres
tinham acesso, como pro exemplo as runas – oráculo originário dos povos
nórdicos e que nos chegou através dos vikings. Somente a mulher nesta sociedade
tinha o direito de “jogar runas”, isto fazia parte das funções femininas nestas
tribos.
Com o passar dos séculos outras artes divinatórias foram sendo
criadas (ou reveladas), formando outros tipos de sistemas oraculares. Embora,
as antigas artes continuaram a ser praticadas, mesmo com o domínio cristão na
Europa durante todo o período medieval – há que se levar em consideração que
famílias e grupos inteiros de pessoas não abandonaram muitas de suas práticas
consideradas pagãs, o próprio cristianismo se mesclou com várias destas
culturas, aliás foi o sintetizador entre estas e a cultura romana.
Hoje, quando pensamos em oráculo ou artes divinatórias é comum
imediatamente pensarmos no Tarô. O Tarô como oráculo se disseminou
principalmente durante os séculos XIX e XX. Ninguém sabe ao certo sua origem,
muitas especulações pouco prováveis, o que temos são documentos do século XIV que
citam jogos de cartas que eram jogados (não de forma oracular).
Tanto Tarô como Quiromancia (leitura da mão) caminham juntos, e
muitas veze são associados, graças ao povo cigano, famoso por suas cartomantes
e quiromantes. Aqui é bom lembrar que o Tarô, embora faça parte das tradições
ciganas, não foi criado ou revelado por este povo, erro comum que muitos
cometem.
Infelizmente estas e outras artes divinatórias acabaram assumindo uma
forma pejorativa, visto o número expressivo de charlatães que encontramos “pelas
estradas” e que brincam com a boa fé das pessoas.
Porém, precisamos diferir as coisas: se você foi até um oraculista
se consultar, com toda curiosidade e ansiedade do mundo e nada do que ele “previu”
aconteceu, não pense que o problema é o Tarô, as cartas, as runas, ou os búzios,
ou a borra de café, enfim, e que tudo isso é enganação.
Separe o executor do objeto. O taromante não é o Tarô. Assim, se
houve alguma fraude não foi do Tarô, mas pode ter sido do taromante. O pai-de-santo
não é o búzio. A astróloga não é o sistema solar, nem os signos.
Os oráculos funcionam sim, como forma de autoconhecimento. Os oraculistas
estão aí para lhe fornecer um pequeno mapa que auxiliará no seu crescimento, e
sim, lhe auxiliará no seu percurso. Fica muito mais fácil caminharmos quando as
luzes estão acesas e nossos olhos estão abertos, mesmo que a luz esteja fraca,
ao menos temos uma noção.
Quando o oraculista faz previsões, primeiro que nenhum oráculo que
fale do estado da pessoa mostra acontecimentos num prazo muito maior que seis
meses; segundo, ao oraculista são revelados fragmentos de uma realidade porvir,
não há uma olhada panorâmica completa, mesmo porque, o oráculo mostra aquilo
que mais está preocupando o consulente naquele momento.
Sendo assim, nós os oraculistas estamos aqui para sermos pontes. Ponte
entre você e você mesmo. Entre você e o Ser que há em você. Entre você e aquilo
que está porvir. Entre você e o desconhecido – a verdadeira realidade.
Aquele que não cumpre este papel, ou algo semelhante, não pode ser
chamado de oraculista.
E por fim, ouça sua voz interior, ela certamente tem muito a
revelar, basta silenciar e ouvir.
Gratidão!
Referências Bibliográficas
Hilário Franco Junior. Estruturas Culturais. Idade Média, o nascimento do Ocidente. Brasiliense.
________________. Estruturas Mentais. Idade Média, o nascimento do Ocidente. Brasiliense.
Ligia Amaral Lima. Iniciação às Runas. Nova Era.
Nei Naiff. Curso Completo de Tarô. Nova Era.
Veet Pramad. Curso de Tarô e seu uso Terapêutico. Madras editora.